Duas semanas após o início do conflito entre Israel e Hamas, o mundo vem focando as atenções em ajuda humanitária, retirada de civis e estrangeiros da região de guerra e envio de profissionais de saúde para a faixa de Gaza. Além disso, os impactos econômicos com a eclosão de possíveis novos conflitos, atrelada a escalada militar entre Rússia e Ucrânia, preocupam autoridades mundiais.
Para o economista, especialista em macroeconomia, mercado financeiro e CEO da A&S Partners, Wagner Moraes, as tensões geopolíticas trouxeram consequências diretas e indiretas para a economia mundial e, consequentemente, para o Brasil. O especialista cita o aumento de risco de interrupções no Canal de Suez, um dos corredores do comércio mais importantes do mundo.
“O Oriente Médio é geograficamente estratégico para o comércio global. Uma obstrução ou fechamento temporário do Canal de Suez pode levar a atrasos no transporte global de mercadorias”, alerta.
Moraes explica quais impactos o Brasil pode sofrer com a interrupção do canal. “Para o Brasil, isso pode significar atrasos nas exportações e importações, com consequente impacto nos preços e na balança comercial. A flutuação cambial também poderá ser intensificada nesse período com o agravamento da situação e impactos na inflação serão inevitáveis”
Embora o Brasil não esteja diretamente envolvido no conflito entre Israel e Hamas, para Wagner Moraes, o país pode assumir um papel ímpar no conflito. “É vital para os formuladores de políticas e investidores brasileiros entenderem essas conexões e estarem preparados para navegar em águas geopolíticas turbulentas. Por outro lado, o Brasil pode tentar mediar e buscar soluções de menores impactos e danos”
Embora Israel e a Faixa de Gaza não sejam grandes produtores de petróleo, Wagner Moraes disse que a percepção de risco na região do Oriente Médio pode aumentar os preços do petróleo devido à especulação. Além disso, pode haver interrupções na cadeia de suprimentos.
“Isso pode resultar em preços mais altos de combustíveis no Brasil e no mundo, influenciando a inflação e os custos de transporte. Empresas globais que dependem de componentes ou produtos de Israel podem enfrentar interrupções na cadeia de suprimentos. Isso pode causar atrasos, falta de produtos ou aumento de preços em setores específicos”
Wagner Moraes lembra que Israel é um hub tecnológico global, especialmente em setores como cibersegurança, tecnologia da informação e saúde. A guerra também afeta o setor de turismo do país.
“A instabilidade prolongada pode resultar em queda de investimentos estrangeiros no país. Além disso, o turismo, vital para a economia israelense, pode ser gravemente afetado. Essa queda no fluxo de turistas e investimentos pode ter repercussões na economia global, afetando parceiros comerciais e investidores”
Para o especialista, a manutenção da guerra e a escalada da violência entre Rússia e Ucrânia pode trazer impactos sérios ainda na economia mundial e, por consequência, na economia brasileira.
“A Ucrânia é um corredor principal para o trânsito de gás natural russo para a Europa. As hostilidades comprometem essa rota, levando a volatilidade nos preços de energia, com possíveis aumentos no gás e petróleo, afetando muitos os países emergentes e, principalmente, o Brasil. Países europeus próximos ao conflito enfrentam pressões econômicas diretas, desde interrupções comerciais até fluxos de refugiados”
Moraes lembra que a região do Mar Negro, importante para o comércio global, ainda está sob tensão. Isso pode causar maiores atrasos e perturbações em rotas comerciais marítimas.
“Com isso, os mercados financeiros reagem a incertezas geopolíticas com aversão ao risco, levando a saídas de capitais de mercados emergentes e desvalorização de moedas. Eventuais aumentos de bloqueios ou ameaças podem desacelerar mais ainda o comércio global. O Brasil, com sua economia fortemente dependente das exportações, poderia ver uma diminuição na demanda por commodities como soja, carne e minério de ferro. Isso poderá trazer impactos sérios na manutenção das atividades econômicas do país e retrair o PIB”.