Economista Wagner Moraes, CEO da A&S Partners, diz que a questão no Brasil não é se haverá recessão, mas quando ela chegará
Os números mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostraram que o Brasil criou 2 milhões de empregos formais de janeiro a dezembro de 2022, com retração de 26,6% na comparação com o ano anterior. Em Catanduva, o resultado foi exatamente o oposto: o município gerou 1.664 vagas de emprego no ano passado, ao passo que em 2021 foram abertos 1.151 postos de trabalho.
Pensando na projeção para 2023, O Regional consultou o economista Wagner Moraes, CEO da A&S Partners, especialista em Macroeconomia, Estruturação e Reestruturação de Empresas, Recuperação Judicial, Meios de Pagamento, Bancos Digitais, Mercado Financeiro, Fusões&Aquisições e Fintechs Corporativas.
As previsões que o especialista traçou, com base no mercado nacional e internacional, entretanto, não passam otimismo. “O mundo está a caminho de uma nova crise mundial, é o que indica as previsões mais realistas, baseadas no relatório recente do Fundo Monetário Internacional. Segundo o FMI, 2023 será marcado por recessões, com um terço da economia global passando por dificuldades financeiras”, diz ele.
Com relação ao Brasil, ele lembra que no último boletim Focus divulgado pelo Banco Central a inflação já mostra sinais de retomada, com projeção de fechamento do IPCA para este ano em torno de 5,74%. Quando é verificada a mesma projeção há quatro semanas, o índice estava apontando para elevação em 5,31%.
“Quando olhamos para o cenário brasileiro, a questão maior que surge não é mais se haverá ou não recessão econômica no país, mas sim quando ela chegará e como isso impactará nas vidas das pessoas”, expõe ele, confirmando que os indicadores evidenciam elevação nos preços ainda considerável para este ano.
Segundo Moraes, a previsão para o câmbio é de estabilidade em R$ 5,28. Em 2022 o câmbio fechou o ano em R$ 5,2780, mostrando queda acumulada no ano de 5,32%. “Equivale afirmar que o Real se valorizou frente ao Dólar Norte Americano”, analisa.
Com relação aos juros, diante deste cenário, a previsão é de que 2023 termine com ligeira retração, com a taxa Selic reduzindo para 12,50%, frente à expectativa de 12,25% de quatro semanas atrás.
“Ao considerarmos a sinalização de redução dos juros dos atuais 13,75% para 12,50%, equivalente a 1,25% de redução para o ano, ainda deixa o custo do dinheiro em dois dígitos, o que é bastante caro e inibe novos investimentos por parte das empresas e investidores”, explica o economista.
As projeções para Produto Interno Bruto – PIB apontam para um fechamento para este ano em torno de um crescimento de 0,80% nas atividades econômicas. “Isso é muito pouco para sustentar os empregos nos níveis atuais, bem como manter a demanda aquecida. Se considerarmos a projeção de IPCA de 5,74%, que retrata a correção dos preços praticados na economia como um todo, frente a uma projeção de crescimento do PIB em torno 0,80%, equivale afirmarmos que a economia do país sofrerá uma retração real em torno de 4,90%.”
CRISE MUNDIAL
Wagner Moraes adiciona em sua análise o reflexo da crise mundial já instalada, que aponta para recessão global e queda do PIB global em torno de 2,9%, conforme estudos recentes do FMI. Ele diz que a economia brasileira ainda está bastante frágil e que a troca de comando no governo contribui para um cenário mais conturbado, diante das incertezas sobre a forma de condução do país e da política monetária a ser adotada.
“Os investidores estão inseguros e diante das incertezas se concentram num movimento que chamamos de “Fly to Quality”, ou seja, “voo para a qualidade”, termo do mercado financeiro que se refere a um movimento coletivo de busca por ativos mais seguros, que é observado em momentos de crise e incerteza econômica. Os investidores identificam os sinais de uma possível queda forte e buscam formas para se protegerem.”
Nessa hora, diz o CEO, a segurança passa a valer mais do que a expectativa de retorno sobre o capital investido. “Por isso, procuram os ativos mais fortes, líquidos e estáveis para alocar o seu capital, evitando ou reduzindo as perdas que podem ocorrer pela flutuação negativa de preços”, completa ele, frisando que as economias emergentes sofrem impactos, redução de investimentos e a fuga de divisas.
PRUDÊNCIA EM 2023
Com tudo isso, Wagner Moraes afirma que a economia brasileira tende a passar por instantes delicados ao longo deste ano. A retração econômica já está instalada e deverá gerar maiores impactos no nível de emprego. A expectativa, diz ele, é de que a taxa de desemprego fique em torno de 9% em 2023.
Para relembrar, a taxa de desemprego do Brasil caiu para 8,1% no trimestre encerrado em novembro de 2022. É o menor nível desde abril de 2015, quando estava no mesmo patamar. A última vez que ficou abaixo foi no 1º trimestre de 2015, quando foi de 8%.
Em 2021, a taxa média de desemprego foi de 13,2%, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e de 13,8% em 2020.
“O ano de 2022 foi atípico e favorável para a retomada dos empregos no país. Em instantes de incertezas, como está apontando o ano de 2023, a recomendação que fazemos é que prudência, resiliência e um pouco de canja de galinha, desde que bem dosados, não fazem mal a ninguém”, completa.